Carta ao ladrão

Sr Ladrão: Eu sou a mulher que 8 de Março, dia da mulher, o Sr abordou no cruzamento da Rua Loefgren com a Rua Bitencourt Sampaio as 21h35.
Meu nome é Tania Mujica ,sou Analista Comportamental e ensino às pessoas como sair do piloto automático e ficarem mais presentes em cada momento da sua vida. Na hora que o sr me conheceu eu não estava vivendo aquilo que ensino, eu estava totalmente distraída, olhando para o celular. Eu magrinha, de chinelo e distraída desse jeito devo ter me tornado alvo fácil imagino.

Quando se aproximou e apontou a arma na minha cabeça, eu voltei para o presente de supetão e de distraída fiquei mil por cento atenta, daí percebi que a arma que estava na sua mão era tão leve que mais parecia um brinquedo e lhe disse “ é um brinquedo”. Nesse momento você baixou a arma e preferiu tentar tirar meu celular, o puxa puxa começou, praqui pralá praqui pralá e a minha unha quebrou , adrenalina a mil que nem senti a dor , o puxa puxa continuava mas quando a outra unha estava prestes a quebrar …aí não ne? Meu celular mixuruco nem valia tanto assim… eu o soltei você saiu correndo, e eu por teimosia, por impulso (e por ser Ariana mesmo) corri te perseguindo e gritando o mais forte que pude “ vou te pegar cara” “to te alcançando” “to pertinho” “to atrás de você” . O seu medo era tão grande que prossegui-lo foi automático. Se não fosse por você ter subido naquele fiat preto eu o teria pego … O que eu teria feito se o tivesse pego? Não faço a mínima ideia! Te persegui só porque você correu mesmo.

Mas lhe escrevo esta carta por três motivos:

Primeiro para lhe agradecer. Por um bom tempo eu não voltarei a pegar o celular enquanto estiver caminhando. Graças a sua atitude eu irei estar mais presente a cada passo, prestar mais atenção às pessoas que passam e quem sabe, me librar de algum acidente grave ou até mesmo de um roubo com uma arma de verdade.

Segundo para perdoa-lo. Fazendo as contas daquilo que eu ganhei diante do que perdi eu já saí ganhando. Por outro não sei se aconteça o mesmo para você. Coloco-me no seu lugar… Tenho certeza que quando você era um garotinho tinha sonhos muito maiores do que ser um adulto que rouba celulares. Fico sinceramente triste ao imaginar quantos sentimentos você deve ter reprimido para não sentir dor e quanto tudo isto deve afetar diretamente sua auto estima, autoconfiança e auto reconhecimento.

Terceiro para me perdoar e convida-lo a se perdoar também. Eu me perdoo por essa noite não ter vivido aquilo que prego quando distraída mexia no celular. Perdoo-me por ter tido prazer em ver seu medo e por ter reagido me esquecendo de que o melhor para minha segurança é não reagir. Me perdoo por meu impulso de combate ser nessas ocasiões mais forte do que a minha vontade de paz. de tudo isso eu me perdoo.

Ao te perdoar e me perdoar eu e você somos livres um do outro. Até uma próxima vez, quem sabe em contextos totalmente diferentes.
Lhe desejo paz na sua mente e no seu coração, por que paz interior, por ser interior, independe do caos externo. Você e qualquer pessoa podem atingir essa paz, o primeiro passo é se reconciliar com esse garotinho que um dia sonhou em ser alguém melhor.

Att. Tania

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